Dia 21 de abril: porque comemoramos Tiradentes 2x6f13
A Inconfidência Mineira é um dos momentos mais importantes e simbólicos do Brasil. Ela despertou nos brasileiros o senso comum que podíamos nos libertar de Portugal e construir um novo pais com a sua própria história
A vida pública brasileira nunca foi um mar de rosas. Pelo contrário. As crises políticas no Brasil são cíclicas e parecem intermináveis. Hoje, em que pese tenhamos um presidente eleito democraticamente, ele sofre uma oposição extrema diante do seu comportamento à frente do Executivo Nacional. Pesquisas mostram que parte substancial da população não gosta do jeito como ele governa e pede sua saída. Muitos veem na posição que adota uma tentativa de terminar um ciclo democrático que começou há apenas 32 anos, depois de 21 anos de uma ditadura militar que o Brasil nuca tinha vivido.
Por isso, no dia em que se comemora o dia de Tiradentes, é necessário relembrar que o pais, e o brasileiros, podem até ser cordatos, como descreveu Sérgio Buarque de Holanda. Mas nunca se sujeitou eternamente aos desmandos de seus governantes. A Inconfidência Mineira não foi a primeira e nem a única no Brasil Colônia.
Tiradentes, nosso primeiro herói? 6lj5a
Joaquim José da Silva Xavier, conhecido desde quando era vivo por Tiradentes, era um alferes, oficial de baixa patente do Exército Colonial Brasileiro, e para sobreviver foi dentista, tropeiro, minerador e comerciante. Participou de um dos movimentos separatistas mais importantes do país, a Inconfidência Mineira. O movimento formado pela elite mineradora e intelectual de Vila Rica e São João Del Rey buscava libertar apenas a Província de Minas Gerais do domínio Português.
O movimento juntou os homens mais ricos da Província que não queriam se sujeitar à derrama. Um imposto que confiscava um quinto (20%) do ouro que produziam e dos escravos que tinham. Tiradentes era um agitador político que atuava para agregar novos militantes ao grupo. A derrama se dava de três em três anos e quem não se submetia era preso e tratado como alvo da violência. Entre uma derrama e outra, os funcionários da Corte portuguesa roubavam e impunham o poder que tinham com violência.
O golpe do grupo estava marcado para o dia da derrama, quando os portugueses faziam a recolha do imposto. Mas um dos participantes do grupo, José Silvério dos Reis, português de origem que devia muito dinheiro à coroa, decidiu mudar de lado em troca do perdão da dívida e entregou os integrantes e os planos do grupo. Ao ser desmantelado, Tiradentes foi o escolhido pela coroa para ser o exemplo, uma vez que era o mais pobre e o mais conhecido pela população. Preso, foi morto em 21 de abril de 1792.
Tiradetes nasceu em 1746. Levado à capital da colônia, seu julgamento durou três anos. Após ser enforcado, seu corpo foi esquartejado e distribuído no caminho da capital à Vila Rica, exposto em praças públicas, para servir como exemplo. Os outros inconfidentes, entre eles Manuel da Costa e o poeta Tomás Antônio Gonzaga, tiveram outro destino, o desterro (exílio). Quase todo o grupo foi destituído de suas posses e levados às colônias portuguesas na África. Nenhum deles voltou ao Brasil. Todos morrem pobres e esquecidos em Angola e Moçambique.
A Inconfidência Mineira pretendia que a capital do novo país, as Minas Gerais, fosse São João Del Rey, a abertura da primeira Universidade em Vila Rica, eleições diretas, a industrialização e que o novo país não tivesse um Exército. Todos teriam direito ao uso de arma e formariam milícias quando fosse necessário. Uma curiosidade sobre Tiradentes é que ele nunca teve em vida uma imagem gravada em pintura, como se fazia na época. Portanto, ninguém sabe exatamente qual era sua feição. Como era Alferes e militar, os historiadores dizem que os quadros que o retratam com barba são liberalidades dos artistas. Disciplinado, ele nunca teve barba.
O primeiro herói 5b2b3s
Assim que o Brasil se libertou de Portugal, mais especificamente ao se transformar em uma República, no final do século 19, Tiradentes foi alçado à condição do primeiro herói nacional. Entretanto, os historiadores e acadêmicos atuais, afirmam que o primeiro herói brasileiro foi Zumbi dos Palmares, a primeira voz a se levantar e promover uma guerra contra a coroa Portuguesa para acabar com a escravidão.
Zumbi morreu cento e três anos antes de Tiradentes, em 1695, após ser atacado por Domingo Jorge Velho, enviado por Lisboa para acabar com o Quilombo dos Palmares.
O Brasil é o único país do mundo que teve uma escravidão que durou pouco mais de três séculos. Apenas na metade do século 19 a elite intelectual brasileira iniciou uma guerra aberta contra ela. Poemas de Castro Alves eram lidos escondidos na periferia do Rio de Janeiro e José do Patrocínio escrevia abertamente em jornais contra ela. Há registros de que D. Pedro II queria acabar com ela, mas era escravo do que hoje chamamos de “bancada ruralista”. Começou a cair com a libertação dos escravos pela princesa Isabel. A nobreza brasileira também não ava a possibilidade de o trono acabar na mão de Conde D’eu, o odiado marido da princesa Isabel.
Outras revoltas separatistas 73584o
Embora os historiadores relacionam várias revoltas como separatistas, a maioria teve caráter nativista. O único movimento inteiramente independentista é a Conjuração Baiana em 1798, dez anos depois da Inconfidência Mineira. A Mineira foi em 1789. Seu objetivo era a independência total do Brasil de Portugal e a libertação dos escravos. Como a Mineira, foi totalmente desmantela e sua liderança presa e assassinada.
As revoltas nativistas que alguns consideram movimentos que queriam a independência, são a Revolta de Beckman (1684) no Maranhão, Guerra dos Emboabas (1708 e 1709), em Minas, a Guerra dos Mascates (1710 e 1711) em Pernambuco, e a Revolta de Filipe dos Santos, em 1720, em Minas e também contra a derrama.
Revoltas no Império 405t2d
O Brasil nunca foi um país que viveu grandes períodos de estabilidade política. No primeiro Império, D. Pedro I viveu vários momentos delicados. Desde a sua conturbada relação com Lisboa, a convocação da primeira Constituinte, com a Revolução do Porto em 1820 e a tentativa de isolá-lo e fazer com que os governadores das Províncias respondessem diretamente ao trono, em Lisboa, a pressão que voltasse e dia do Fico, até a rejeição que sofreu por causa de suas aventuras amorosas, a Independência e a sua volta para a Europa.
D. Pedro II foi alçado ao poder aos 15 anos por causa da instabilidade política durante as Regências e, no poder, enfrentou ao menos cinco grandes revoltas: a Cabanagem, a Sabinada, a Balaiada, a Farroupilha e a Praieira. Tivemos outras de menor expressão. Ele ainda enfrentou a campanha pela libertação dos escravos e foi derrubado aos 49 anos do poder para a instalação da Primeira República ou República Velha.
As revoltas na República 2k1z4l
Outra fase da história brasileira marcada por instabilidade política é o período republicano. A Guerra dos Canudos, dez anos após a instalação da República, a Revolução dos Esquecidos, no começo do século 20, a Revolta Tenentista (ou do Forte de Copacabana) em 1920, a coluna Prestes, em 1923, a Revolução de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932, o golpe do Estado Novo em 1937, a deposição de Getúlio Vargas em 1945, o seu suicídio motivado por forte instabilidade em 1954, a renúncia de Jânio Quadros em 1961, o Golpe Militar em 1964, luta armada a partir de 1966/67, o autogolpe de Geisel em 1977 (que criou 21 senadores biônicos), o movimento das diretas em 1982, a queda do regime militar em 1984, a Constituinte de 1986 e a Constituição de 1988 que criou a Nova República, e a atual crise que envolve os três Poderes.
Fonte – jornal O Estado de Minas, Brasil Escola e SóHistória. As informações sobre Tiradentes são, em sua maioria, retiradas do processo que a corte Portuguesa promoveu até declarara a sua sentença de morte e constam dos autos da 4ª sessão de perguntas de seu julgamento no dia 18 de janeiro de 1790.
Perguntas feitas ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier – Assinados por José Pedro Coelho Machado Torres (desembargador e juiz da devassa), Marcelino Pereira Cleto (Ouvidor e Corregedor da Comarca do Rio de Janeiro e escrivão para a devassa), José dos Santos Rodrigues e Araujo (tabelião) e Joaquim José da Silva Xavier (Alferes, inquirido).